terça-feira, 30 de julho de 2013

Flexibilidade é uma virtude para o trabalho pedagógico

ENTREVISTA

Mauricio Burim
 Mauricio Burim /

Flexibilidade é uma virtude para o trabalho pedagógico

Mario Sergio CortelLa, filósofo, educador e autor de livros de educação, gestão, filosofia e ética


A educação está em constante movimento e não combina com repouso. A observação é do filósofo, mestre e doutor em Educação, Mario Sergio Cortella, que defende que as pessoas não são resistentes à mudança, mas não têm a formação necessária para chegar a esse processo.
Cortella diz acreditar que, para se aproximar do êxito, é preciso estar mais atento às oportunidades e aproveitá-las. Essa busca exige a capacidade de ser audacioso, sem cair na postura do aventureiro. Em entrevista para a Gazeta do Povo, ele disse que, por mais complicado que seja, mudar não é impossível. Confira os principais trechos da conversa:
Mudar é complicado no ambiente educacional?
De maneira geral, as pessoas não têm resistência para mudar. O que elas não têm é uma formação para essa mudança. Tolice é fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes. Toda vez que fazemos isso, não chegamos num ponto adequado. Precisamos ter cautela com o “mudancismo”; de ter de mudar o tempo todo. Há diferença entre ser flexível e ser volúvel. Flexível é aquele que muda a cabeça quando precisa. Volúvel é aquele que muda quando o vento bate.
Ser flexível é uma virtude que deve ser valorizada?
Sem dúvida. Uma virtude de inteligência. Um ser que não seja flexível não tem condição de sobrevivência. Darwin nunca disse que a sobrevivência era do mais forte; disse que era do mais apto. Aliás, se fosse dos mais fortes, os dinossauros estavam aí ainda. O mais apto é aquele que tem flexibilidade e, nesta hora, sem dúvida, a flexibilidade é uma virtude para o trabalho pedagógico.
Existe uma tendência pela resistência em mudar?
A primeira Lei de Newton diz que todo corpo tende a um movimento, a menos que alguma coisa o leve para o repouso. Vamos inverter: todo corpo tende ao repouso, a menos que alguma coisa o mantenha em movimento. Brincando com isso, qualquer organismo visa à economia de energia. Para economizar energia, você não precisa sair da área de conforto. Na área da educação, isso é muito arriscado. Por isso, mudar é complicado, mas não é impossível, e acomodar é perecer, mas não é definitivo.
É possível ficar na área de conforto no ambiente escolar?
Toda vez que você envolve a comunidade escolar traz pais, alunos, professores e funcionários para aquele circuito. Fica mais difícil ficar na zona de conforto. Há situações em que a pessoa se desloca da zona do conforto porque deseja fazer algo melhor e outras vezes ela é puxada. A palavra repouso nega a educação, pois educação significa mover-se a algum lugar. Nesta hora educação é movimento.
Para que a mudança ocorra é preciso estar atento às oportunidades?
Não pode estar distraído. A música do Zeca Pagodinha, que diz “deixa a vida me levar, vida leva eu”, não serve para a educação. Em educação tem de ser Geraldo Vandré: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É preciso antecipar, planejar e organizar. Ir lá e fazer.
A busca insaciável pela mudança tem a ver com insatisfação?
Existe uma insatisfação positiva e uma negativa, que é a da mera reclamação, resmungo, chateação. A insatisfação positiva quer mais e melhor. As grandes coisas na história da humanidade foram obtidas por homens e mulheres que não tinham uma satisfação por completo em relação ao que faziam. Queriam mais e melhor, mas não queriam só para si.
A educação precisa cuidar com os modismos?
A educação tem muito modismo. Mudar não significa mudar por qualquer razão e nem de qualquer jeito. Significa mudar com planejamento, estudo e avaliação. É preciso trazer aquilo que importa ser guardado e deixar para trás o que tem de ser colocado fora.
A educação como oportunidade ao êxito. A solução está na educação?
A solução está na educação, mas não só nela. Se a educação fosse capaz disso sozinha, o Brasil viveria uma contradição insolúvel. Nós somos a sexta economia mais rica do planeta, mas somos o número 66 em educação. Se fosse automático, como explicaria isso? Se a passarmos a 10.º em educação, seremos o primeiro do mundo [em economia]? Não é assim. Quando comparamos a qualidade da educação, temos de olhar a história do outro país, o investimento que fizeram, o tipo de aporte que conseguiram.
A tecnologia veio para contribuir ou para dificultar?
A tecnologia passou a ser a difusora de uma informação veloz e criou um fenômeno que leva a um choque de tempo. Os alunos são do século 21, nós somos do século 20 e os métodos são do século 19. Quando se junta esses três séculos, há uma colisão que envolve o docente, a família, a autoridade pública e o conjunto da sociedade. Precisamos romper esses atreladores que amarram demais a condição da educação e começar pela valorização do trabalho docente

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Avaliação Diagnóstica

O que é?

O conceito de avaliação diagnóstica não recebe uma definição uniforme de todos os especialistas. No entanto pode-se, de maneira geral, entendê-la como uma ação avaliativa realizada no início de um processo de aprendizagem, que tem a função de obter informações sobre os conhecimentos, aptidões e competências dos estudantes com vista à organização dos processos de ensino e aprendizagem de acordo com as situações identificadas.
 

Quais são seus objetivos?

Fundamentalmente identificar as características de aprendizagem do aluno com a finalidade de escolher o tipo de trabalho mais adequado a tais características. Ou seja, a avaliação diagnóstica coloca em evidência os aspectos fortes e fracos de cada aluno, sendo capaz de precisar o ponto adequado de entrada em uma seqüência da aprendizagem, o que permite a partir daí determinar o modo de ensino mais adequado. Com esse tipo de avaliação previne-se a detecção tardia das dificuldades de aprendizagem dos alunos ao mesmo tempo em que se busca conhecer, principalmente, as aptidões, os interesses e as capacidades e competências enquanto pré-requisitos para futuras ações pedagógicas.
 

Quais as suas características?

Uma das mais importantes características da avaliação diagnóstica é o seu aspecto preventivo, já que ao conhecer as dificuldades dos alunos no início do processo educativo, é possível prever suas reais necessidades e trabalhar em prol de seu atendimento. Uma outra característica refere-se a possibilidade que a avaliação diagnóstica tem de determinar as causas das dificuldades de aprendizagens persistentes em alguns alunos.
 

Para que servem os seus resultados?

As informações obtidas podem auxiliar as redes de ensino bem como as unidades escolares, a planejar intervenções iniciais, propondo procedimentos que levem os alunos a atingir novos patamares de conhecimento. Ou seja, seus resultados servem para explorar, identificar, adaptar e predizer acerca das competências e aprendizagens dos alunos.

Retirado do Portal CAED

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pedagoga Hospitalar

Classe Hospitalar ajuda na melhoria do tratamento de crianças internadas
Mayara Castilho

Ao longo dos últimos dez anos, crianças que passaram pela internação do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti e, atualmente, do Complexo Hospitalar Ouro Verde, receberam orientação pedagógica, por intermédio do programa de continuidade escolar: Classe Hospitalar, que ajuda os estudantes tanto no desenvolvimento escolar como no tratamento médico.

Denominado Classe Hospitalar, o programa criado a partir de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Educação de Campinas e o hospital faz parte da modalidade da Educação Especial. O trabalho não é apenas um apoio educacional, mas também um desafio a ser traçado. Os pedagogos trabalham com a continuidade escolar para crianças no período de internação, usando brinquedos, jogos, lápis de cor e livros para compor o material didático utilizado nas tarefas escolares.

Segundo Karin, que atende casos complexos mantidos em unidades de tratamento semi-intensivo no Hospital Mário Gatti, o objetivo é diminuir a ansiedade das crianças durante o tempo em que elas ficam no hospital. "A criança tem receios e medos. As atividades que realizamos minimizam o estresse causado no tratamento ".

As atividades propostas levam em conta o tempo em que as crianças ficam hospitalizadas e a disposição em que elas se encontram. "O conteúdo didático é analisado pelos professores e pode ser aplicado em uma sala preparada para o trabalho pedagógico ou no próprio leito do paciente", explica Karin.

Nicole Aparecida Lopes de Souza, de 9 anos, recebe elogios da pedagoga e se mostra muito atenta às tarefas. Empolgada ao falar sobre o tratamento extra, a paciente se diverte com as atividades, que visivelmente, a deixa mais contente nesse período de internação. "Gosto de muitos jogos, principalmente de memória, montar quebra-cabeças e de ler fábulas. É divertido e me distrai", conta.

Caracterizado para atender as condições dos alunos, o ambiente deixa um ar de sensibilidade e bem estar para os visitantes. Entre as mudanças que ocorreram no decorrer dos anos, estão as plaquinhas que contém a ficha das crianças. Modificadas, agora têm cores e bichinhos e deixam mais alegria e descontração nas salas do hospital.

É possível perceber a diferença que as salas coloridas, os jogos e a sensação de estar numa sala de aula transmite nas crianças do Hospital Mário Gatti. Por meio de Weverton Tiago, 3 anos, vemos que os brinquedos trazem resultados positivos na permanência das crianças. A liberdade para decidir o que quer faz Weverton se sentir em casa para escolher os brinquedos preferidos. "Mãe, quero brincar com o Pula-Pirata", diz o paciente, logo depois de almoçar.

Internações longas

Para os pacientes que moram nos hospitais ou ficam internados durante anos, a equipe pedagógica desenvolve um programa de aulas e conteúdos de acordo com o calendário escolar da Secretaria Municipal de Educação (SME). A legislação brasileira dá o direito de crianças e adolescentes hospitalizados obterem o atendimento pedagógico-educacional.

"Quando a criança não esta matriculada em nenhuma escola, orientamos os pais a procurar a escola mais próxima de sua residência para a reintegração na vida escolar", explicou a coordenadora de Educação Especial da SME, Cláudia Nunes.

No hospital Mário Gatti, o espaço foi montado em 1998 pela Secretaria da Educação em parceria com a Brinquedoteca da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).  A partir de 1990, o projeto Classe Hospitalar passa a ser de responsabilidade exclusiva da SME. Hoje, os pedagogos se empenham para resgatar o que a criança perde enquanto permanece no hospital e evitar qualquer tipo de atraso na aprendizagem.

Pronto-Socorro Infantil

Em 2008, a Classe Hospitalar na Modalidade Brinquedoteca iniciou seu trabalho atuando no Pronto-Socorro Infantil do Mário Gatti. De acordo com a pedagoga Maristela Rodrigues Freitas Martin, no PS Infantil há maior rotatividade e as crianças ficam um período mais curto. "As atividades são lúdicas, realizadas para minimizar o stress da procura emergencial".

Além de Maristela Martin, Sheila Serrano e Suzana de Oliveira Marcondes também integram a equipe de pedagogas da Classe Hospitalar do Pronto-Socorro Infantil do Mário Gatti. No local, são oferecidas várias atividades para pacientes e familiares. A equipe pedagógica realiza todo o trabalho de acolhimento e pedagógico necessário aos pacientes que chegam ao hospital.

"Neste serviço de urgência e emergência, o tempo para as intervenções podem variar de poucas horas a alguns dias, portanto foi necessário que desenvolvêssemos estratégias  próprias a este serviço. Propiciar situações e vivências pedagógicas que dão oportunidade ao aluno/paciente não se distanciar dos conteúdos escolares, é muito utilizado por nós, a oferta pedagógica tem um formato diferenciado, são livretos temáticos, produzidos pela equipe, sempre com a preocupação de incluir atividades para as diferentes faixa etárias e a séries correspondentes que explica inclusive alguns procedimentos pelo quais o paciente irá passar. Além disso, existe a produção de vídeos que familiarizam o paciente sobre o vocabulário médico e rotinas hospitalares", explica Maristela Martin.

Ouro Verde

Cláudia Mara da Silva e Vânia Garbo Soranzo são as pedagogas do Complexo Hospitalar Ouro Verde. Em Campinas, este hospital também trabalha com o processo de continuidade escolar das crianças. Há dois anos o local conta com a Classe Hospitalar. As pedagogas dão, além de exercícios escolares, a atenção necessária aos pacientes e mostram novas chances de recuperação.

Cláudia sempre fica atenta às possibilidades que as crianças possuem de realizar as tarefas. É muito importante que elas estejam motivadas para que haja melhor retorno. "O processo é uma ponte com a vida. Eles sabem que a escola fica lá fora e a continuidade dos estudos dá novas perspectivas, os aproxima da vida", conta.

Ainda segundo a pedagoga, além do material enviado pela escola, que depende do tempo em que o paciente fica internado, há uma ala com brinquedos, que distrai as crianças que permanecem por poucos dias no Complexo. "Esses trabalhos suavizam o tratamento, deixam as crianças mais tranquilas. É um fator de recuperação que faz com que elas se adaptem melhor", explica.

O conteúdo é intercalado e dependente da rotina dos pacientes. Apesar da grande rotatividade, neste mês de novembro de 2010, cerca de 32 crianças fazem parte da Classe Hospitalar no Complexo Hospitalar Ouro Verde e as atividades são realizadas no próprio leito.

"É gratificante e muito positivo perceber o retorno dos pacientes. As crianças que vão embora e por algum motivo, precisam retornar ao Pronto Socorro, nos reconhecem. Já houve casos em que pediram para voltar a ficar conosco, pois se lembram dos brinquedos e das atividades. Além disso, trabalhamos com a orientação sobre a família, para que eles entendam melhor como funciona o processo de recuperação", diz Cláudia.

Fonte: http://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=4372